quarta-feira, 23 de maio de 2012

Verde Meio Amarelado (reflexão sobre pixação)





Matias, um homem que sonhava em ter um lar, viveu a vida no aluguel trabalhando durante o dia em uma firma de placas de transito. A noite quando chegava dava um beijo na esposa, jantava e dormia pra levantar as 5:00 novamente.
Para Matias, a única coisa bonita em seu serviço era a parede de fundo onde se guardavam as chaves. Era exatamente da cor que ele amava, um verde meio amarelado. Ele dizia que quando tivesse um lar de verdade ele pintaria sua casa naquele tom pois trazia esperança. 
Trabalhando nos fins de semana na construção do seu barraco, pagando prestação do lote e comprando fiado no depósito ele consegue depois de 7 anos construir seu lar e pintar daquela cor, o Verde meio amarelado.
Já passavam 3 dias de felicidade, onde ele chegava em casa com orgulho e o verde meio amarelado que ele via de longe, ali da esquina, o trazia esperança de vencer mais e mais. No quarto dia, ele sai de casa ás 5:30 h e vê o seu verde meio amarelado agora com um preto, vários riscos pretos, eram três nomes escritos, parecia ter feito com tinta óleo, o cheiro ainda estava lá e isso te bateu uma revolta enorme. Quem teria feito aquilo? na madrugada, quem teria tempo de não dormir a noite para fazer isso? Ele fica cego e esquece o trabalho, quer achar quem teria feito aquilo, ele não conseguia ler direito, talvez era raiva, medo, não sei. mas o verde que restava lhe continuava a dar esperanças. Comprou fiado uma lata no depósito e repintou seu muro, mas as pessoas já diziam: “Xi, não adianta não, amanha ta tudo pixado” Ele então olhou a redor e viu que os seus vizinhos todos não tinham mais esperança, os muros, as casas, os prédios já não eram deles, ele lembrava de quando era criança e quando chegava na escola dizia “ei, essa cadeira é minha” e alguém sempre falava “tem seu nome escrito aqui?” O muro era dele, mas tinham outros nomes que não era o dele e de ninguém da sua família escrito lá.
Dois dias depois tinham novamente outros nomes no seu muro e ele repintou e novamente e novamente a esperança dele foi quase a última a morrer, mas morreu junto aos pretos, vermelhos e inclusive o azul que ele odiava, era a cor do seu uniforme. Procurou saber porque e chegou a resposta: Os jovens queriam protestar, diziam que eram excluídos pela sociedade. Ele conheceu alguns deles e pode ver de perto suas vidas.
Nos fins de semana ele levava seus filhos ao centro cultural perto de casa, tinham tanta coisa boa lá, e de graça, até cinema, mas ele nunca viu os jovens lá. Ele gostava de arte e sempre ia nas galerias da cidade, são abertas, grátis, ele não podia pagar pra entrar em certos lugares. Seus filhos tinham inveja dos garotos excluídos, eles iam a lugares caros, andavam de carro, tinham dinheiro para comprar de tudo inclusive tinta e podiam dormir de dia para ficar acordados a noite.
Matias então viveu o resto de sua vida se perguntando. Esses jovens estão protestando o que? o que eles escrevem? será um código que diz: Não a violência, Analise antes de votar, Respeite o próximo... Nunca achou a resposta e foi obrigado a se calar e ver o seu verde se tornar azul. 
(Autor ?)